Compartilhar idéias! Fiquei mobilizada com a proposta, e para tal atividade, trago um relato que vi e vivi.
Estacionei meu carro e desci em frente à portaria de uma Universidade Particular em Campinas, umas 23h00 aproximadamente. Esperava minha amiga que trabalha nesta instituição – ela ia dormir na minha casa. Depois de quinze minutos de espera, ela aparece na frente do portão, e ao invés de irmos para o carro, ficamos ali mesmo proseando.
Escutávamos um senhor “bêbedo” (bem próximo, mas como se estivesse distante), aparentemente morador de rua. Cambaleando ele tentava falar com as pessoas que estavam como nós, ali em frente ao portão. Sem nenhuma atenção à sua fala, continuou por ali, cantando, falando, quase caindo…e…. em um momento, ele cai, literalmente. No chão começa a movimentar-se de modo estranho, estava convulsionando. Sua boca parecia espumar. Seu corpo todo trêmulo – fica paralisado, parece estar desmaiado. Eu imediatamente parei de conversar e comecei a pedir ajuda. Juntaram-se mais pessoas. Um aluno pegou o celular para ligar para uma ambulância e …. minutos depois (pasmem!)… esse senhor, que parecia, fora de si, insignificante às pessoas, levanta, sorri e diz:
– Ah! Enganei todos vocês (RS). Estou bem… muito bem agora (RS). Obrigado pela atenção e desculpa ai atrapalhar vocês moços.
E, depois disso saiu. Todos parados. Eu trêmula diante de uma possível “morte”… não sabia se ria, ou se chorava.
O que isso me provocou?
Pensar na vida… o que é a vida? Quem “merece” atenção nesta sociedade das aparências?
É … não é tão simples ser “escutado”. Há relações de poder que engendram pessoas, lugares e seus falares. Por que não demos atenção àquele homem antes do “teatro”?
Em meio a tantas invisibilizações sociais produzidas, há criações possíveis de existência, ou de sobrevivência para a existência. Ao criar uma doença em seu corpo o sujeito pôde ser olhado e escutado.
Penso: Quantas doenças produzimos ou são produzidas na nossa sociedade? Quantas doenças as crianças produzem em seus corpos, para criar para si formas de escuta. Para ganhar espaço e visibilidade na escola, ainda que nomeadas como: hiperativas, fracassadas, dislexa..dis..dis. Nesse discurso da doença, somos forçados a olhar e discursar sobre estes alunos e as causas de seus insucessos escolares.
Na arena inventada pelo senhor fomos capturados para olhar e participar da cena.
Que País é esse? Que sociedade é essa?
Quanto vale uma vida? Já somos mercadorias?
Pensamentos que escapam….
Vanessa Martins