larva 30

A sociedade contemporânea caracteriza-se pela ausência.
Sentimo-nos como a velha fragata de Leibniz; jogados ao mar tempestuoso procurando praia segura a aportar. Descendo em terra firme(?) tornamo-nos Quixotes, e a peleja se faz contra entes que são, contudo, não o são.
Os velhos libertários do século passado e antes sabiam exatamente contra quem deveria ser desferido o ataque; e hoje, como identificar o não-lugar do poder, a autoridade fluída?
Como ocupar o não-ocupável? Como sabotar o sabe-se-lá-oquê? Como não cair em uma recusa medíocre e niilista, ou, ao contrário, num entreguismo reformista/conformista pequeno-burguês lamentável?
– Camaradas: estas e outras questões ficarão parcialmente sem resposta.
Adiante.
Então, as hipóteses:

1ª hipótese, ou hipótese @: A Cartografia do poder. Um careca, amigo meu, propôs que o poder, na verdade, não é centralizado e único, sendo imposto de cima para baixo, goela abaixo dos pobres despossuídos, não tendo, portanto, natureza transcendente; diz ele que o que temos é uma trama, uma rede, um platô de pequenos poderes que diferem entre si somente em grau (intensidades), nesse sentido todos tem poder: o guardinha, o fêssor, Jocasta…

7ª hipótese, ou hipótese arké: O Caos nunca morreu. É a soma de todas as ordens e anterior a todas elas. Desdobrou-se em todos os princípios da física, e, até mesmo Cronos e Eros deitaram ao seu lado.

8ª hipótese, ou hipótese adialética: A Roda de Hegel. A história das revoluções parece sempre girar em falso. Como deseja-la, se ao terminar seu ciclo encontramo-nos à volta de outras forças opressoras, e outras, ad infinitum? O eterno retorno da história das revoluções: revolução, reação, traição e a volta de um estado de coisas ainda mais opressor. Jogadas as cartas, estas não permanecem à mesa, mas voltam, sistematicamente, as mãos de um outro carteador ainda mais infame e feroz. Ao que parece, as revoluções não jogam RPG.

9ª hipótese, ou a hipótese da contradição: Vivemos a sombra de um deus morto. O Deus Trabalho morreu! Mesmo assim bilhões de pessoas devem peregrinar, dia-a-dia, para venerar o cadáver-rei. A terceira revolução industrial, a saber, da microeletrônica liberou o uso da força de trabalho humano em escala jamais vista na história. Todavia, o moderno sistema produtor de mercadorias (capitalismo) tem na exploração da mercadoria força de trabalho seu alicerce principal, destruí-la, portanto, seria destruir a atual sociedade.
Aquela velha contradição, aquela mesma encontrada por Marx um século e meio atrás, parece estar em marcha acelerada e salta-nos aos olhos de maneira formidável.

-Amigos: já temos algumas hipóteses, elucidaremos outras.
Continuamos outro dia, estou atrasado para o chá, e o coelho já passou por aqui.

 

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potlatch (2) festa: dar larvas de idéias e pensamentos, para possíveis co-laborações, devires-monstros. No dia 17 de agosto de 2011, na Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil, durante o III Seminário Conexões: Deleuze e Arte e Ciência e Acontecimento e...
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